Era um dia calmo, fazia frio e calor. A temperatura variava de acordo com o teor alcoólico dele. Um dia feliz e uma noite solitária. A solidão o fazia lembrar-se do frio, mas isso não importava tanto, já que estava feliz. A falsa idéia de liberdade naqueles dias em que tinha a casa só para si encantava-o. Durante a madrugada e a sua solitude refletia sobre a vida, sobre os amigos e as vontades que costumava sentir.
Entretanto, logo deixou de ser sozinho e pôde abrir-se com ela, ela que ele começara a admirar e que sabia mais de sua vida do que muitos que há tanto conviviam com ele. Conversavam e confessavam coisas um para o outro, acreditavam na veracidade das palavras e dos gestos.
Ele falava sobre ela e vice-versa. Mostravam que se conheciam mais do que sempre pareceu. Liam um ao outro, provando que é fácil fazer isso quando realmente reparamos e valorizamos os demais. Exploravam a maravilha que eram.
Ambos se escondiam em mascaras, sentiam medo e não largavam o porto seguro, eram orgulhosos demais para admitir e se protegiam em casulos, moradia esta que se intensificava e quanto mais o tempo passava, mais difícil era o desapego do covarde abrigo improvisado.
“- Azuis com rosa parece legal.” Dizia ela. Ele concordava com um sorriso no rosto, era bom dividir com alguém! Ah, era ótimo poder contar tudo a alguém! Realmente adorava pessoas que perguntavam sem receio, perguntavam o que queriam saber. E ele adorava a objetividade existente nela. Como gostava! Ao mesmo tempo ele clamava: “- Brilhe! Você pode, e sinto que quer mais do que isso!” E como ela queria, ah se queria!
Ela despertava nele a vontade de ser quem realmente era, e em contrapartida ele tentava fazê-la admitir seus próprios valores acreditando na magnitude que ela sempre demonstrou ter. E que realmente tinha! Ele sabia que ela tinha! Confidentes e amigos. Sentiam falta um do outro e lamentavam a distancia.
A dualidade nos sentimentos fazia parte deles. Amavam, sofriam e sentiam a falta de carinho, de andar de mãos dadas e de demonstrações publicas de afeto. Dois bobos que sorriam fácil com as coisas tolas, mas que eram capazes de lhes arrancavam os mais sinceros sorrisos.
Era ele e era ela: cúmplices e confidentes da madrugada. Por fim adormeceram, ele sorria e ela... Bem, sobre ela, ele nunca saberia.