domingo, junho 26

Despedaçando-se, um garoto


Ele era um garoto, um menino não tão belo, mas com um coração enorme. Ele sempre sorria e costumava acreditar na força das coisas. Fazia de si um grosseirão frio e cético, mas esta era a sua defesa contra o mundo sempre tão esmagador e destruidor de sonhos. Ah! E como ele sonhava, sonhava sem parar e viajava o mundo todo através de seus incríveis poderes mágicos, fazia tudo isso em cima de sua cama ao som de uma melodia doce e calma. Vivia as maiores histórias de amor e deixava a paixão fluir por todos os seus poros, ele era feliz. Em seus sonhos sempre era correspondido, nunca sofria as consequências do destino, consequências estas que nem sempre eram tão agradáveis.

O tempo passava e os sonhos não eram mais o suficiente para alegrar o garoto, as lágrimas não deixavam mais os olhos. Ele se questionava por que teria desistido da UFMS, mas sabia que esta era apenas mais uma das histórias que queria que fosse verdade.. Ah! E que história! Mas ele não se saíra tão bem dela.. Deixara um pedaço do seu coração perdido nas brechas do tempo. Ele teve medo o tempo todo, sentiu-se estranho e fora do controle. Seu peito doía de solidão e ele ansiava pelo término deste mal, desta dor. Sofrimento sempre fora algo que não alegrava o menino, nisso ele não era bom. Procurava sempre fugir da dor.. E assim o fez, apagou todos os vestígios que pudessem lembrar-lhe das terras longínquas que ousara visitar. Queria que tudo fosse como se nunca tivesse acontecido, mas os fatos haviam sido lapidados em seu coração, marcados com ferro em brasa, com o fogo repentino da paixão.

Restava-lhe apenas as conversas para ler, apenas elas, mas os olhos não se aguentavam quando lia as palavras que agora lhe pareciam tão falsas, mas que antes haviam lhe tirado os maiores sorrisos. De repente tudo parecia tão pequeno, tão cheio de nada.

Sentia falta de seu aparelho telefônico tocando a todo momento, sentia falta de rir com ele na mão. Seu coração pulsa a cada novo torpedo, as esperanças sempre ficam e as dele parecia que não findavam.

Às vezes sorria lembrando, às vezes eram as lágrimas que tomavam o lugar do riso. O peito doía. Que dor é essa? Ele queria expulsá-la de dentro dele, queria poder se esconder nos braços de outras pessoas, queria poder se entregar a todos, lutava para achar alguém que lhe fosse possível, encontrar alguém que realmente lhe dissesse tudo sem medo, que se sentisse preparado para receber o seu amor.

O garoto, pobre tolo. Sofria agora as dores de um amor não vivido, ou deveria dizer mal vivido? Teria sido platônico?

A noite se encerrava com o rosto coberto do choro, ele apenas pensava e pensava e pensava: Quando é que o amor vai realmente acontecer comigo? Quando?

E assim afundou a cabeça no travesseiro e se permitiu dormir, sem sonhos, por que estes seriam pouco a pouco abdicados de sua vida vazia, de sua alma vazia... De seu coração partido, pequeno e despedaçado.

domingo, junho 12

Eu não sei

Dos dias frios que se seguem
eu tiro apenas duas coisas:
a solidão e o marasmo.
A solidão dessa vida exclusiva e tão só,

Vida sem razão, sem emoção.
Marasmo que me consome, que me enche o peito
do tédio impregnante de cada dia,
de cada amanhecer, de cada ar, de cada tudo!

O cansaço dessa vida minha,
desse andar e suor de cada dia.
O cotidiano sangrento e turbulento
me esmagando, dilacerando, destruindo.

Morre dia-a-dia uma parte minha,
morrem as rosas?
Morre o meu ar, o meu lar,
Morre o meu ser, morre o meu eu.

O eu de hoje distinto do de ontem
e metamorfoseando-se para o futuro,
para o ali, o lá, o outrora.
Quem serei? Quem sou? O que fui?

Eu não sei, eu não sei, eu não sei.